Pular para o conteúdo

ENERGIA & NEGÓCIOS

Brasil é um dos países que menos acessam recursos do banco do BRICS apontam analistas

Aumentar o aproveitamento desses recursos para impulsionar o desenvolvimento do Brasil é fundamental, considerando a relevância da eficiência energética, infraestrutura de transporte e saneamento básico. Esses setores também figuram como prioridades para o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco do BRICS, no financiamento de projetos. No entanto, apesar de ser um país-sócio, o Brasil ainda se destaca negativamente por acessar minimamente os recursos disponibilizados por essa instituição.

Por Alessandro Quadros — Agência Tingu
12/08/2023 19h35 – Atualizado há uma hora

Em 2020, por exemplo, foi o único país-membro que recusou a cota de US$ 1 bilhão (R$ 5,02 bilhões) para enfrentamento da pandemia de COVID-19. De acordo com dados do último relatório anual disponibilizado na página do NBD, até dezembro de 2021 o Brasil acessou pouco mais de US$ 4,9 bilhões (R$ 24,5 bilhões) em financiamentos de projetos, índice um pouco maior que o da Rússia, que alcançou US$ 4,5 bilhões (R$ 22,5 bilhões). O valor é inferior ao de países como África do Sul (US$ 5,2 bilhões, ou R$ 26 bilhões), Índia (US$ 7 bilhões, ou R$ 35,1 bilhões) e China (US$ 7,4 bilhões, ou R$ 37,1 bilhões).

O país já teve aprovados quase 30 projetos no banco, que desde agosto é dirigido pela ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff. O último listado dizia respeito à mobilidade urbana do município de Serra (ES), com a liberação de US$ 57,6 milhões (R$ 288,9 milhões) em julho. Enquanto isso, o país segue com demandas urgentes que poderiam ser parcialmente atendidas com recursos do banco. Como exemplo, números da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto apontam que o Brasil vai precisar investir R$ 893 bilhões para universalizar o saneamento básico.


A professora de economia do Insper Juliana Inhasz disse à Sputnik Brasil que desde 2018 já havia críticas à pouca utilização do país dos recursos disponibilizados pelo NBD.
“Durante um bom tempo tivemos baixa taxa de juros, […] talvez não [fazendo] […] sentido gerar financiamentos no exterior. Agora as taxas estão altas e tem toda uma questão de incertezas. E, muito além disso, todo esse questionamento de como acessar esses valores”, enfatiza.
Ainda em 2018, durante a gestão do ex-presidente Michel Temer, o Brasil chegou a assinar um acordo para a instalação do Escritório Regional para as Américas, em São Paulo, que, passados quase cinco anos, sequer foi finalizado. Durante o governo Jair Bolsonaro, um decreto chegou a ser publicado para promulgar o ato, mas sem definição de prazos.


Plano estratégico prioriza sustentabilidade


Desde 2022 o plano estratégico de atuação do banco do BRICS prioriza projetos sustentáveis, com foco em energia limpa, redução das emissões de carbono, proteção ambiental e infraestrutura social. Entre os projetos de destaque do portfólio do banco, nenhum é brasileiro: todas são propostas de energia limpa e de infraestrutura de transporte e saneamento, na China ou na Índia. Luana Paris, analista de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e pesquisadora do Grupo de Estudos sobre o BRICS (GEBRICS) da Universidade de São Paulo (USP), lembrou, em entrevista à Sputnik Brasil, que há uma série de critérios para que o projeto seja aprovado.


Questionada sobre como os recursos do banco do BRICS podem ajudar na retomada econômica do Brasil, a analista de relações internacionais da PUC Minas disse que “é improvável que só com projetos financiados pelo NBD se consiga pensar em uma situação nesse sentido”. Porém Luana Paris defende que a longo prazo esses recursos podem trazer resultados consideráveis. “É como se fosse de grão em grão. De projeto em projeto, que vai ter uma grande repercussão local, você pode ir gerando impactos que, no final de alguns anos, serão positivos”, enfatiza.

Fale com a gente