Emissões do país não estão relacionadas à geração de energia, mas sim às mudanças no uso da terra e agropecuária
O Brasil precisará alcançar emissões negativas de CO2 em torno de 2035-2040 para atingir a neutralidade de Gases de Efeito Estufa (GEE) no horizonte de 2050, ou seja, uma década antes do momento de alcance da neutralidade climática do país. Nos três cenários observados, as emissões de CO2 são negativas em torno de 500 milhões de toneladas, dimensionando o tamanho do desafio.
Essa é a conclusão do relatório Neutralidade de Carbono até 2050: Cenários para uma transição eficiente no Brasil, elaborado em cooperação entre o CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e Cenergia LAB (Centro de Economia Energética e Ambiental).
Outra conclusão relevante, face à necessidade de haver emissões negativas em 2040, é que na ausência de eliminação das emissões oriundas de desmatamento e mudança do uso da terra, o setor energético precisará compensar parcialmente as emissões destas fontes e ao mesmo tempo lidar com as emissões remanescentes de GEE dos setores de difícil abatimento de emissões, como transporte de carga a longa distância e processos industriais carbono-intensivos, tornando a transição energética ainda mais onerosa e, portanto, um fator de perda de competitividade
“Caso o país não consiga eliminar o desmatamento ilegal até 2028, encontra-se uma impossibilidade de viabilidade técnica e realista para que as emissões de GEE sejam zeradas em 2050, mesmo considerado aplicação no fim do horizonte de tecnologias que hoje ainda não estão maduras”, constata o estudo.
Neste contexto de manutenção do desmatamento, para que o país consiga cumprir sua ambição apresentada durante a COP de Glasgow de neutralidade de carbono em 2050, as emissões positivas teriam que ser compensadas por meio da aquisição de créditos de carbono, gerando um custo adicional de US$ 3,4 bilhões (considerando um preço de carbono de US$ 350/tCO2 eq).
O relatório traz três cenários distintos que convergem para a emissões líquidas nulas de GEE no país no horizonte de 2050, intitulados: (i) Transição Brasileira (TB); (ii) Transição Alternativa (TA) e (iii) Transição Global.
Cenário TB: moldado com base nos compromissos assumidos pelo país em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).
Cenário TA: busca-se testar uma trajetória tecnológica alternativa para o alcance da neutralidade no brasil em 2050, considerando impactos da própria mudança climática no setor energético
Cenário TG: busca-se destacar a contribuição do Brasil em um mundo que pretende limitar o aumento médio da temperatura superficial global em até 1,5°C em 2100, referente aos níveis pré-industriais.
O estudo destaca que em 2020, o Brasil emitiu 2,16 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2eq), figurando entre os principais emissores globais anuais. Contudo, em termos per capita, o Brasil é considerado um país de baixa intensidade de emissões com cada brasileiro emitindo, em média, 1,9 tCO2eq. Isso representa cerca de 1/7 das emissões de um norte-americano e 1/3 de um cidadão europeu ou de um chinês.
A particularidade do Brasil é que a geração de GEE do país não está fortemente relacionada à geração de energia, mas sim às mudanças no uso da terra (desmatamento) e agropecuária, que, juntas, representam 73% das emissões totais no país. Enquanto no mundo, o setor energético é responsável por 76% das emissões de GEE, no Brasil a matriz energética corresponde a 18% das emissões brutas de GEE do país em 2021.