Hidrelétricas –
Maior empresa geradora de energia elétrica do país, a Eletrobras tem quase 43 GW em empreendimentos na sua carteira, considerando também participações, sendo quase a totalidade em hidrelétricas.
As hidrelétricas permanecem exercendo um papel vital na operação do Sistema Interligado Nacional (SIN), embora menos representativas dentro da matriz elétrica brasileira do que eram há algumas décadas, por contribuírem com o equilíbrio da geração e da carga quando outras fontes intermitentes apresentam variações bruscas. Segundo Rodrigo Limp, vice-presidente de Regulação e Relações Institucionais na Eletrobras, é importante que as regras de remuneração destas usinas e o processo de formação de preços sejam aprimorados para que possam ser reconhecidas pelos serviços prestados e tenham incentivo para novos investimentos.
“Apesar da participação relativa das hidrelétricas ter diminuído, sua importância na operação do sistema só aumenta”, diz Limp, se referindo ao papel de “baterias naturais” de sistemas exercido por essas usinas. Por isso, definir regras para viabilizar remuneração desses serviços é importante.
Maior empresa geradora de energia elétrica do país, a Eletrobras tem quase 43 GW em empreendimentos na sua carteira, considerando também participações, sendo quase a totalidade em hidrelétricas. No total, o Brasil tem 103 GW em potência instalada na fonte.
A antiga estatal tem em portfólio usinas importantes, como Tucuruí, Sobradinho, Xingó, Furnas, Santo Antônio, além de 49,98% da usina de Belo Monte.
Remuneração adequada
Um dos principais desafios enfrentados pelas hidrelétricas no cenário atual é a falta de uma remuneração adequada pelos serviços de flexibilidade que prestam ao sistema elétrico. As hidrelétricas funcionam como grandes baterias naturais, armazenando energia em seus reservatórios e liberando-a quando o sistema mais necessita.
No entanto, segundo Limp, as regras de mercado ainda não refletem o valor dessa flexibilidade. “Hoje, esses serviços são prestados sem uma remuneração específica, e isso precisa ser corrigido para viabilizar novos investimentos e garantir que as hidrelétricas continuem desempenhando seu papel”, afirma.
No entanto, essas fontes, por sua natureza, dependem de condições climáticas e variam ao longo do dia. Por exemplo, a energia solar tem sua maior produção nas horas de pico de luz, mas ao final do dia a geração cai drasticamente, justamente quando a demanda por energia aumenta.
“É nesse momento que as hidrelétricas assumem um papel crucial, com suas rampas de produção cada vez mais desafiadoras”, explica Rodrigo Limp
Hoje, as hidrelétricas precisam cobrir variações de até 30 GW no sistema em momentos de transição, como o final da tarde, quando a produção solar diminui rapidamente. Segundo projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), essa rampa poderá atingir até 50 GW até 2028, o que reforça o quanto as hidrelétricas são relevantes para garantir a segurança e a confiabilidade do sistema.
Os serviços ancilares, que remuneram fontes por serviços adicionais, como o equilíbrio do sistema, já são utilizados em mercados internacionais, mas no Brasil ainda estão em estágio inicial. De acordo com Rodrigo Limp, a inclusão das hidrelétricas na consulta pública para o leilão de reserva de capacidade foi um passo positivo, mas é necessário avançar em outras frentes, ‘como o aprimoramento da formação de preços no mercado de energia. “Precisamos de sinais de preço que reflitam o custo real da operação, especialmente em um cenário de maior participação de fontes intermitentes”, reforça.
Modernização e novos projetos
A Eletrobras está investindo fortemente na modernização de suas usinas hidrelétricas. Como as concessões foram renovadas no contexto da sua capitalização, em 2022, a empresa está aproveitando para ampliar a vida útil de seus ativos. Um dos principais projetos é a modernização da usina de Tucuruí, a maior hidrelétrica da Eletrobras, que passará por uma série de atualizações nos próximos anos.
“Somente em 2024, planejamos investir cerca de R$ 1,5 bilhão na modernização de usinas, o que é fundamental para garantir a resiliência do sistema e a disponibilidade dos nossos ativos”, revela Rodrigo Limp.
Além de Tucuruí, outras usinas importantes também estão passando por processos de modernização, como Furnas e Paulo Afonso. Segundo o executivo, esses investimentos são essenciais não apenas para garantir a continuidade da operação, mas também para aumentar a eficiência das usinas e ampliar sua capacidade de geração.
Outro ponto destacado pela Eletrobras é a possibilidade de desenvolvimento de novos projetos de usinas reversíveis, que funcionam como grandes sistemas de armazenamento de energia, aproveitando os momentos de maior produção de fontes intermitentes para bombear água a reservatórios superiores e gerar eletricidade quando a demanda aumenta.
“Essa tecnologia já é utilizada em larga escala em países como China e Estados Unidos, e acreditamos que, com o avanço da intermitência no Brasil, as usinas reversíveis terão um papel cada vez mais importante”, afirma.
Hidrelétricas e o uso múltiplo das águas
Além de sua importância para a geração de energia, as hidrelétricas desempenham outros papéis fundamentais no uso múltiplo das águas. Em várias regiões do país, os reservatórios hidrelétricos são essenciais para o controle de cheias, a navegabilidade. O Lago de Furnas, em Minas Gerais, é um exemplo de como os reservatórios hidrelétricos impulsionam a economia local por meio do turismo e atividades de lazer.
“As hidrelétricas proporcionam uma série de benefícios adicionais que muitas vezes não são considerados quando falamos apenas da geração de energia. É importante que políticas públicas também considerem esses aspectos”, ressalta o vice-presidente da Eletrobras.
Além disso, a companhia também tem investido em iniciativas de revitalização das bacias hidrográficas e ações de descarbonização na Amazônia, como parte de suas obrigações após a capitalização. “Esses projetos são fundamentais para preparar as regiões para as mudanças climáticas, além de contribuírem para a sustentabilidade ambiental das operações hidrelétricas”, conclui Limp.
Comentário do Engenheiro e CEO da ENERCONS Ivo Pugnaloni
Para o CEO da ENERCONS, engenheiro eletricista Ivo Pugnaloni, a carga no sistema elétrico que essa nova unidade industrial vai acrescentar não poderá ser sustentada por geração solar, altamente influenciada por dias nublados, chuvosos e pelo inexorável horário depois das 16 horas, quando o sol vai se pondo. “Só fontes hidrelétricas ou termelétricas podem suprir cargas como essa, pois são permanentes. Resta saber se o Ministério de Minas e Energia vai preferir gerar energia elétrica com água nacional, ou com derivados de petróleo importados, caríssimos e poluentes” comentou.
Pugnaloni lamentou estar ainda paralisada nas assessorias do MME , há três anos, a precificação das externalidades ( benefícios e prejuízos adicionais ao meio ambiente) de cada fonte. “Talvez seja a ação dos poderosos “lobbies” aos quais se referiu o próprio ministro Silveira na sua excelente entrevista à CNN, semana passada”, disse o executivo que foi diretor de planejamento da COPEL , concessionária do Paraná.
“Não há como negar que as assessorias do MME estarão fazendo o governo incorrer em grave risco de judicialização caso o Leilão de Reserva de Capacidade não venha a atender ao artigo 26, parágrafo 1-G que determina que todos os benefícios ambientais e de garantia de fornecimento sejam considerados, nos certames como esse, que envolvem centenas de bilhões de reais em energia elétrica, disse ele.
“Vejam leitores o que diz a Lei 9784/99 Art. 26 § 1º-G. “O Poder Executivo federal definirá diretrizes para a implementação, no setor elétrico, de mecanismos para a consideração dos benefícios ambientais, em consonância com mecanismos para a garantia da segurança do suprimento e da competitividade, no prazo de 12 (doze) meses, contado a partir da data de publicação deste parágrafo. Se isso não aconteceu, o MME corre o risco de um mandado de segurança interromper todo esse processo de compra enorme, pois a data de publicação deste parágrafo foi 01.03.21. E quem aviusa, geralmente, amigo é”, adendou.
“O atual governo brasileiro precisa entender, de uma vez por todas, que não basta geração solar e eólica para fazer a transição energética, pois elas são fontes intermitentes. Param de uma hora para a outra de produzir. Essas duas fontes são muito boas, mas tem esse grave defeito. Sem novas hidrelétricas para completar a geração faltante da solar e eólica a cada momento, a nossa matriz vai ter que usar cada vez mais termelétricas que já são, graças às manobras desses lobbies, mais de 37% da capacidade instalada do Brasil”, concluiu preocupado Ivo Pugnaloni.