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Grandes usinas solares no Brasil atingem 15 GW, mas sofrem cortes do ONS, diz Absolar

O Brasil acaba de ultrapassar a marca de 15 gigawatts (GW) de capacidade instalada nas grandes usinas solares, informou a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), alertando no entanto para o aumento de cortes da operação pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), “sem nenhum controle e responsabilidade dos empreendedores”, tanto nas usinas de energia solar como nas usinas eólicas.

No caso da energia solar, a entidade informa que em 2022 os cortes de operação significaram cerca de R$ 9,3 milhões, subindo para R$ 177,6 milhões em 2023, e este ano, entre abril e julho, os cortes representaram R$ 50 milhões.

Para a entidade, os cortes acendem um alerta para a necessidade de reforçar o planejamento e os investimentos na infraestrutura do setor elétrico, sobretudo em linhas de transmissão e novas formas de armazenar a energia limpa e renovável.

Especialistas já vêm alertando há algum tempo para a necessidade de se incentivar o uso de baterias no Brasil, alternativa usada por vários países que não possuem reservatórios de hidrelétricas para armazenar energia.

Com o corte das renováveis e o temor pelo esvaziamento dos reservatórios das hidrelétricas durante o atual período seco, que vai até outubro, o ONS é obrigado a acionar usinas termelétricas, que além de encarecer o preço da energia elétrica para o consumidor final, aumenta o volume de emissões de gases de efeito estufa (GEE) do País.

Segundo a Absolar, os empreendimentos solares têm sofrido cortes recorrentes, gerando um desperdício acumulado de energia limpa de cerca de R$ 1 bilhão nos últimos dois anos.

Na avaliação da entidade, “é plenamente possível aumentar significativamente a participação das fontes renováveis na matriz elétrica brasileira, mantendo confiabilidade, segurança e estabilidade, bem como assegurando o equilíbrio técnico e econômico da expansão e operação do sistema elétrico do Brasil”.

O presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, ressaltou que, além de ser uma fonte competitiva e limpa, a maior inserção da energia solar em grandes usinas é fundamental para o País reforçar a economia e impulsionar o processo de transição energética. “A fonte solar é parte desta solução e um verdadeiro motor de geração de oportunidades, novos empregos verdes e renda aos cidadãos”, destacou Sauaia.

Para o CEO da ENERCONS, engenheiro eletricista Ivo Pugnaloni, a carga no sistema elétrico que essa nova unidade industrial vai acrescentar não poderá ser sustentada por geração solar, altamente influenciada por dias nublados, chuvosos e pelo inexorável horário depois das 16 horas, quando o sol vai se pondo. “Só fontes hidrelétricas ou termelétricas podem suprir cargas como essa, pois são permanentes. Resta saber se o Ministério de Minas e Energia vai preferir gerar energia elétrica com água nacional, ou com derivados de petróleo importados, caríssimos e poluentes” comentou.

Pugnaloni lamentou estar ainda paralisada nas assessorias do MME , há três anos, a precificação das externalidades ( benefícios e prejuízos adicionais ao meio ambiente) de cada fonte. “Talvez seja a ação dos poderosos “lobbies” aos quais se referiu o próprio ministro Silveira na sua excelente entrevista à CNN, semana passada”, disse o executivo que foi diretor de planejamento da COPEL , concessionária do Paraná.

“Não há como negar que as assessorias do MME estarão fazendo o governo incorrer em grave risco de judicialização caso o Leilão de Reserva de Capacidade não venha a atender ao artigo 26, parágrafo 1-G que determina que todos os benefícios ambientais e de garantia de fornecimento sejam considerados, nos certames como esse, que envolvem centenas de bilhões de reais em energia elétrica, disse ele.

“Vejam leitores o que diz a Lei 9784/99 Art. 26 § 1º-G. “O Poder Executivo federal definirá diretrizes para a implementação, no setor elétrico, de mecanismos para a consideração dos benefícios ambientais, em consonância com mecanismos para a garantia da segurança do suprimento e da competitividade, no prazo de 12 (doze) meses, contado a partir da data de publicação deste parágrafo. Se isso não aconteceu, o MME corre o risco de um mandado de segurança interromper todo esse processo de compra enorme, pois a data de publicação deste parágrafo foi 01.03.21. E quem aviusa, geralmente, amigo é”, adendou.

“O atual governo brasileiro precisa entender, de uma vez por todas, que não basta geração solar e eólica para fazer a transição energética, pois elas são fontes intermitentes. Param de uma hora para a outra de produzir. Essas duas fontes são muito boas, mas tem esse grave defeito. Sem novas hidrelétricas para completar a geração faltante da solar e eólica a cada momento, a nossa matriz vai ter que usar cada vez mais termelétricas que já são, graças às manobras desses lobbies, mais de 37% da capacidade instalada do Brasil”, concluiu preocupado Ivo Pugnaloni.

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