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Hidrelétricas podem reduzir custo da energia e conter inflação, aponta especialista

Com preços menores, pressão inflacionária será menor, aponta a gerente da Fiemg, Tânia Mara Santos

O retorno dos investimentos nas hidrelétricas com reservatórios pode ajudar a reduzir a pressão no custo da energia na produção e, logo, na inflação, alerta a gerente de energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Tânia Mara Santos. “Um terço do custo da cesta básica é energia”, observa a especialista.

De acordo com levantamento da Abrace Energia, associação que representa os grandes consumidores do insumo, a energia já representa um quarto do gasto de uma família brasileira.

Outro estudo divulgado neste mês pela entidade mostra que, entre 2000 e 2022, o custo unitário da energia elétrica para a indústria brasileira aumentou 1.154%, em comparação, os preços industriais avançaram 585% e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma variação de 291%.

“Quando o custo da energia elétrica é reduzido, essa redução não é apenas na conta de energia que o consumidor paga, isso tem impacto no preço dos produtos. Afinal, se o empresário tem aumento no preço de um insumo, o custo sobe e ele repassa para o preço do produto”, observa Tânia Santos.

lém do impacto no bolso do consumidor, seja pelo preço pago na conta de luz ou nos custos de produção, a gerente de energia da Fiemg destaca que as hidrelétricas com reservatório ajudam a mitigar os impactos das mudanças climáticas.

Diante dessas vantagens e pautada num estudo, a Fiemg está desenvolvendo uma campanha para mostrar os benefícios dessa matriz energética, entre elas, o progresso para a região onde é viabilizada. “A gente quer abrir esse debate, o momento é agora”, diz.

A entidade defende a revisão na política energética para uma melhor utilização do uso múltiplo da água, como o aproveitamento do potencial das hidrelétricas para armazenamento, regularização de rios, irrigação e promoção da sustentabilidade das comunidades ao redor.

Tânia Santos explica que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) busca sempre utilizar a energia mais barata, que é a hidráulica, complementando com as demais. No entanto, diante do cenário de chuvas escassas e baixo nível dos reservatórios, foi necessário acionar as termelétricas, cujo custo é mais alto, além de serem, em sua maioria, poluentes. “Isso tem impactos ambientais, já que é uma fonte suja, e também social, por causa do custo para a população”, observa.

No último dia 30, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira tarifária vermelha, patamar dois, em função de previsões de chuvas bem abaixo da média histórica. A última vez que o governo acionou a bandeira vermelha foi em agosto de 2021. A divulgação da bandeira pela agência vale para o mês de setembro. Dessa forma, as faturas de todos os clientes das distribuidoras brasileiras deste mês, com vencimento em outubro, contarão com acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

Vice-governador defende volta dos investimentos em hidrelétricas

Além da Fiemg, em maio deste ano, o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões (Novo), defendeu a volta de investimentos em hidrelétricas pelo Estado. Ele representou o governo estadual na terceira reunião do Grupo de Trabalho de Transições Energéticas do G20, que aconteceu no Minascentro, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Na ocasião, ele disse que Minas Gerais tem um potencial não utilizado considerável e que os estudos indicam que é possível dobrar a capacidade de produção hidrelétrica no Estado. No entanto, Simões defende que a responsabilidade não seja da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Na opinião do vice-governador, a companhia precisa concentrar seus investimentos na melhoria da rede de distribuição.

Comentário do Engenheiro e CEO da ENERCONS Ivo Pugnaloni

Para o CEO da ENERCONS, engenheiro eletricista Ivo Pugnaloni, a carga no sistema elétrico que essa nova unidade industrial vai acrescentar não poderá ser sustentada por geração solar, altamente influenciada por dias nublados, chuvosos e pelo inexorável horário depois das 16 horas, quando o sol vai se pondo. “Só fontes hidrelétricas ou termelétricas podem suprir cargas como essa, pois são permanentes. Resta saber se o Ministério de Minas e Energia vai preferir gerar energia elétrica com água nacional, ou com derivados de petróleo importados, caríssimos e poluentes” comentou.

Pugnaloni lamentou estar ainda paralisada nas assessorias do MME , há três anos, a precificação das externalidades ( benefícios e prejuízos adicionais ao meio ambiente) de cada fonte. “Talvez seja a ação dos poderosos “lobbies” aos quais se referiu o próprio ministro Silveira na sua excelente entrevista à CNN, semana passada”, disse o executivo que foi diretor de planejamento da COPEL , concessionária do Paraná.

“Não há como negar que as assessorias do MME estarão fazendo o governo incorrer em grave risco de judicialização caso o Leilão de Reserva de Capacidade não venha a atender ao artigo 26, parágrafo 1-G que determina que todos os benefícios ambientais e de garantia de fornecimento sejam considerados, nos certames como esse, que envolvem centenas de bilhões de reais em energia elétrica, disse ele.

“Vejam leitores o que diz a Lei 9784/99 Art. 26 § 1º-G. “O Poder Executivo federal definirá diretrizes para a implementação, no setor elétrico, de mecanismos para a consideração dos benefícios ambientais, em consonância com mecanismos para a garantia da segurança do suprimento e da competitividade, no prazo de 12 (doze) meses, contado a partir da data de publicação deste parágrafo. Se isso não aconteceu, o MME corre o risco de um mandado de segurança interromper todo esse processo de compra enorme, pois a data de publicação deste parágrafo foi 01.03.21. E quem aviusa, geralmente, amigo é”, adendou.

“O atual governo brasileiro precisa entender, de uma vez por todas, que não basta geração solar e eólica para fazer a transição energética, pois elas são fontes intermitentes. Param de uma hora para a outra de produzir. Essas duas fontes são muito boas, mas tem esse grave defeito. Sem novas hidrelétricas para completar a geração faltante da solar e eólica a cada momento, a nossa matriz vai ter que usar cada vez mais termelétricas que já são, graças às manobras desses lobbies, mais de 37% da capacidade instalada do Brasil”, concluiu preocupado Ivo Pugnaloni.

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