Com fortes investimentos em biocombustíveis e energia renovável, Minas Gerais pode protagonizar descarbonização
O mercado de crédito de carbono tem se destacado como uma das principais soluções no combate às mudanças climáticas e na promoção do desenvolvimento sustentável no Brasil. Além de beneficiar o meio ambiente, este sistema pode se tornar uma importante alavanca para o crescimento socioeconômico brasileiro, gerando emprego, renda e empoderando comunidades.
Na prática, o objetivo é capturar os custos externos das emissões de gases de efeito estufa, estimulando a redução e onerando os responsáveis pela mudança do clima. Os créditos coletados podem gerar receitas consideráveis para que as instituições governamentais invistam em iniciativas voltadas para o desenvolvimento social e ambiental.
Novos projetos de reflorestamento, conservação de biomas, fortalecimento de comunidades e práticas agrícolas sustentáveis estão entre as principais alternativas. Elas não apenas reforçam o benefício da ação, como também podem ser capazes de gerar novas fontes de receita para o País.
Segundo a gerente sênior da consultoria PwC Strategy&, Bruna Dias, o mercado de carbono é uma tendência global e precificá-lo é importante para viabilizar alternativas em descarbonização. No Brasil, a especialista e autora do estudo “Cenários de descarbonização: oportunidades e incertezas da precificação de carbono” cita que o mercado está se desenhando para abarcar as indústrias, dado que as emissões agropecuárias foram excluídas pela complexidade de monitoramento e reporte.
Entretanto, ela reforça que os primeiros passos precisam ser cautelosos para que a estratégia incentive a competitividade e não apenas se torne mais um custo para a indústria. “A indústria brasileira passa por muitos desafios com intensa pressão externa. Se o mercado de carbono não pensar nisso, iremos sufocar o setor”, avalia.
A partir deste olhar, a especialista argumenta que o melhor caminho pode não estar na redução de emissões industriais, mas na intensidade delas. Com isso, passa a ser analisada a quantidade de emissões geradas por unidade de produção a fim de torná-la mais eficiente, levando a resultados ambientalmente positivos ao mesmo tempo em que operem e cresçam de forma sustentável.
Além da competitividade, Bruna Dias ressalta que o Brasil precisa se inspirar em ações bem-sucedidas na Europa para elaborar mecanismos de proteção para que produtos importados também sejam precificados. “Se algum produto de um setor precificado no Brasil for importado, o País de origem precisa pagar o mesmo preço de carbono que a indústria nacional”, pontua.
Minas Gerais tem vocação para protagonizar descarbonização
Apesar dos desafios, o Brasil é considerado como um dos potenciais protagonistas no mercado de crédito de carbono dado às vastas oportunidades no campo da transição energética. Para Bruna Dias, o mercado nacional tem a possibilidade de ser um vetor de descarbonização no mundo e um dos maiores exportadores de produtos de baixo carbono.
Para concretizar essas projeções, o Projeto de Lei 412/2022, que cria o Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões (SBCE) e regulamenta o mercado de carbono no País já está em andamento. A expectativa, segundo Bruna Dias, é que em cinco anos o País esteja com o mercado de crédito de carbono em pleno funcionamento, de maneira coordenada.
Enquanto não há uma regulação nacional, alguns estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, contam com políticas diferenciadas para viabilizar a descarbonização. Através de sistemas de monitoramento e verificação, as indústrias conseguem relatar as emissões, permitindo maior controle e precisão de dados por parte dos estados, por exemplo.
Em relação a Minas Gerais, a especialista ressalta que, apesar de ainda não contar com mecanismos de monitoramento, o Estado tem vocação para se tornar um dos maiores protagonistas em descarbonização do Brasil.
“Cada estado precisa olhar para suas vocações. Minas já conta com regras para biocombustíveis e energia renovável, e pode se despontar na energia a partir da biomassa, além da matriz solar, onde já se destaca”, avalia.
Para os próximos anos, a expectativa é que aconteçam avanços relevantes, principalmente em instrumentos de precificação de carbono, como mercados e taxas. “Esperamos que a movimentação financeira dos instrumentos de precificação de carbono continue a crescer, mas isso depende de diferentes variáveis como o avanço das regulações globais, da tecnologia, do comprometimento do setor privado e dos preços de carbono”, diz.
Em relação ao futuro potencial do Brasil e de Minas Gerais, a especialista comenta que diversos setores tendem a ser impactados positivamente de forma direta ou indiretamente, resultando até em efeitos positivos no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. “É urgente a tomada de ações relacionadas à preparação para o novo contexto regulatório de baixo carbono, buscando oportunidades para inovar seus modelos de negócios e investir em novas tecnologias”, finaliza.