Segundo levantamento da rede, bioma mais afetado é o Pantanal. E municípios da região estão entre os que mais estão secando
O desmatamento em todos os biomas fez 70% da superfície de água do Brasil secar no período entre 1985 a 2022, conforme levantamento da rede Mapbiomas. Há registro de “sumiço” do mais vital dos recursos naturais em mais de dois terços dos municípios brasileiros, a maioria deles na região do Pantanal. É o caso de Corumbá (MS), Cáceres (MT), Poconé (MT), Aquidauana (MS) e Vila Bela da Santíssima Trindade (MT).
Ou seja, são rios e nascentes desaparecendo. Para se ter uma ideia dessa perda toda no país nesses 37 anos, é como se a água de uma lagoa do tamanho dez cidades do tamanho de São Paulo tivesse evaporado – 1,5 milhão de hectares de superfície de água .
Entre os biomas que perderam superfície hídrica, o destaque é para o Pantanal, com redução de 81,7%. Uma situação grave, que preocupa especialistas pela complexidade do dano ambiental. “A redução de água limita ou elimina o habitat para reprodução de espécies e plantas. Está em risco a sobrevivência de espécies. Não há água para os peixes. Presas da onça pintada, por exemplo, também estão em risco. A importância da Amazônia e outras florestas úmidas é inquestionável para controle do clima, mas não se deve tirar o olhar para os outros biomas”, disse Helga Correa, especialista em conservação da organização WWF, ao repórter Camilo Motta, da TVT.
Seca no Brasil chega até onde chovia todos os meses
A Caatinga aparece em segundo lugar no ranking. Esse bioma que é por natureza o mais seco do país perdeu quase um quinto de sua superfície hídrica (19,1%). Na sequência das perdas aparecem a Mata Atlântica (5,7%), Amazônia (5,5%), Pampa (3,6%) e Cerrado (2,6%).
A grave situaçao do Pantanal colocou o Mato Grosso do Sul na liderança dos estados com maior perda de superfície de água. Uma retração de 781.691 hectares, equivalente a bem mais da metade (57%), segundo o MapBiomas.
Apesar de não estar entre os primeiros na série histórica, o Pampa enfrenta uma situação difícil desde 2022, quando foi observada a menor superfície do período. Caracterizado por chuvas em todos os meses do ano, porém com estiagens no verão, o sul enfrenta dificuldades. E há inclusive lagoas praticamente secas no Rio Grande do Sul. A causa são os 10 anos mais secos da série histórica, segundo o MapBiomas.
Futuro do acesso à água preocupa
Foi observada tendência de perda de superfície de água na maioria das bacias e regiões hidrográficas brasileiras. Três em cada quatro sub-bacias hidrográficas (71%) perderam volume e extensão nas últimas três décadas. Essa perda, aliás, não foi compensada pelo aumento geral da superfície de água no país em 2022. Um terço (33%) delas ficaram abaixo da média histórica no ano passado.
Segundo o MapBiomas, em 2022 a superfície de água no país ficou 1,5% acima da média da série histórica, iniciada em 1985. Na prática, houve uma recuperação de 1,7 milhão de hectares (10%) em relação a 2021, ano de menor superfície no período. Esse aumento, porém, poderia ser analisado como artificial. Isso porque esta água está represada ou em empreendimentos de irrigação. E as fontes estão secando.
“O cenário preocupa. De 2013 para cá tivemos os 10 anos mais secos da série. E em 2022 um alento. Por outro lado, a gente está 7,6% abaixo do que aconteceu em 1991 (de chuvas intensas). Tivemos volumes expressivos no centro do país, que faz com que a gente observe esse aumento de superfície de água. Mas esse cenário nos últimos anos é preocupante. A gente não sabe se vai continuar no ganho, estabilizar ou se voltaremos a ter esses eventos extremos”, disse o pesquisador e coordenador do MapBiomas Água, Juliano Schirmbeck, ao repórter Camilo Mota, na Rádio Brasil Atual.